O Paradoxo dos Planos de Saúde: Lucros Recordes x Negativa de Coberturas
- Todai Advogados
- há 21 horas
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Por: Ingryd Morais
Enquanto o setor de planos de saúde celebra resultados financeiros históricos - com lucros que ultrapassaram R$ 11 bilhões em 2024, um crescimento vertiginoso de 271% em relação ao ano anterior -, milhões de brasileiros enfrentam obstáculos diários para acessar tratamentos essenciais.
Essa contradição revela uma distorção preocupante no sistema de saúde suplementar, onde a lógica financeira parece se sobrepor ao compromisso assistencial.
A justificativa frequentemente apresentada pelas operadoras para as restrições de cobertura - a suposta "crise financeira" - não resiste à análise dos dados. O setor nunca faturou tanto, enquanto pacientes continuam a receber negativas para exames, cirurgias e medicamentos comprovadamente necessários.
A sinistralidade, indicador que mede a relação entre gastos assistenciais e receitas, apresenta trajetória descendente, o que, em tese, deveria resultar em mensalidades mais equilibradas. Contudo, os reajustes permanecem elevados, sugerindo que a contenção de custos não se reverte em benefícios para os consumidores.
A Judicialização como Último Recurso
O fenômeno da judicialização da saúde surge como resposta inevitável a esse cenário; dados do Conselho Nacional de Justiça revelam que mais de 800 mil ações judiciais envolvendo planos de saúde foram movidas apenas em 2023, com taxa de deferimento que ultrapassa 70% em muitos tribunais.
Esses números não indicam, como por vezes se propaga, uma "cultura da litigância" entre os beneficiários, mas sim o fracasso do sistema regulatório em garantir o cumprimento espontâneo das obrigações contratuais e legais por parte das operadoras.
Casos emblemáticos ilustram o custo humano dessa dinâmica perversa, como pacientes oncológicos que aguardam meses por exames de imagem essenciais para o estadiamento de tumores; crianças com transtornos do desenvolvimento privadas de terapias comprovadamente eficazes; transplantados submetidos a intermináveis batalhas judiciais para manter a cobertura de imunossupressores. São histórias que expõem a face mais cruel do conflito entre o lucro e o direito à saúde.
Estratégias de Resistência e Caminhos para Mudança
Diante desse quadro, especialistas apontam a necessidade de medidas estruturais. O fortalecimento da regulação pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), com mecanismos mais ágeis e punições efetivas para as negativas indevidas, representa um caminho urgente.
Paralelamente, a conscientização dos consumidores sobre seus direitos - incluindo a compreensão de que o rol da ANS é meramente exemplificativo e não exaustivo - pode reduzir a assimetria de informação que hoje beneficia as operadoras.
Enquanto persistirem as atuais distorções, a judicialização seguirá como instrumento necessário para corrigir injustiças; no entanto, a verdadeira solução exigirá um pacto social que coloque a saúde - e não o lucro - no centro do sistema. Afinal, como lembra a Constituição Federal, a saúde não é mercadoria: é direito fundamental de todo cidadão e dever inalienável do Estado e da sociedade.
Fonte: UOL Economia. Lucro dos planos de saúde dispara 271% em 2024. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/03/19/lucro-planos-de-saude.htm. Acesso em: 20/05/2025.
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